Cunicultura Sustentável: Boas Práticas para o Bem-Estar de Coelhos - Parte 2
3. Alojamento e Ambiente Ideal para Coelhos
O ambiente físico no qual os coelhos são criados exerce uma influência profunda sobre seu bem-estar e produtividade. Um projeto de instalação bem concebido deve considerar tanto a estrutura física quanto o controle ambiental para otimizar as condições de vida dos animais.
Espaço e Estrutura das Instalações:
Coelhos são animais sociais, e o alojamento em grupos ou pares é o ideal para permitir a expressão de seus comportamentos naturais. A formação desses grupos deve ser cuidadosamente planejada, ocorrendo em fases adequadas da vida dos animais e com composições que minimizem conflitos. Machos, por exemplo, podem desenvolver agressividade ao atingir a maturidade sexual, o que pode exigir seu alojamento individual ou a castração para manter a coesão do grupo. O alojamento individual, contudo, é conhecido por causar estresse. Quando o alojamento individual é cientificamente justificado, é imperativo que os coelhos mantenham contato visual, auditivo e olfativo com outros coelhos do mesmo sexo para mitigar o estresse do isolamento. É importante notar que o cheiro de fêmeas pode estressar os machos, exigindo manejo cuidadoso.
O espaço disponível é crucial para a saúde física dos coelhos. Eles necessitam de áreas amplas que permitam exercícios, incluindo sequências de pulos, essenciais para prevenir a fraqueza óssea e o desenvolvimento de anormalidades esqueléticas. Além disso, coelhos realizam atividades como alimentação, descanso e excreção em locais distintos, o que demanda um recinto que possa ser segmentado com divisórias, plataformas e refúgios. A conexão de gaiolas pode proporcionar espaço adicional para atividades diversas. A altura do recinto é igualmente importante; um mínimo de 75 cm é necessário para que os coelhos possam sentar em sua postura vertical natural, com as orelhas eretas. Gaiolas espaçosas com pisos lisos são recomendadas para o conforto dos animais. As instalações devem ser dimensionadas para acomodar a produção planejada, sempre em conformidade com a legislação de bem-estar animal.
A escolha do piso e do substrato é um componente crítico para o conforto e a saúde dos coelhos. Estudos indicam que coelhos preferem pisos sólidos, que são mais confortáveis para caminhar e descansar. Pisos sólidos também permitem a oferta de substratos variados, essenciais para comportamentos como escavar, roer, rasgar e buscar alimentos. Palha (livre de poeira) ou papel picado são materiais preferidos em relação à serragem ou maravalha. Para fêmeas reprodutoras, a oferta de material para nidificação é indispensável. Se a utilização de pisos de arame for inevitável por alguma justificativa científica, uma área de descanso sólida, como um refúgio, deve ser providenciada. Gaiolas devem idealmente possuir um piso "descanso de patas" para maior conforto dos animais. Substratos como feno, terra, areia e serragem tratada são importantes para defecação e micção. A utilização de pisos de arame é desencorajada, especialmente para animais reprodutores, devido aos riscos de lesões e desconforto.
Coelhos também se beneficiam da presença de áreas elevadas, que funcionam como pontos de observação e permitem exercícios de pulos, auxiliando na prevenção da osteoporose. Plataformas, prateleiras e refúgios devem ser feitos de material não deslizante e em número suficiente para que todos os coelhos possam utilizá-los simultaneamente, evitando competições. Os refúgios são essenciais para que os coelhos possam escapar de outros, esconder-se ou descansar. Tubos de PVC, caixas de papelão ou "casas" comerciais são opções viáveis. É fundamental que haja pelo menos um refúgio por coelho, e em alojamentos em grupo, refúgios com duas aberturas são preferíveis para oferecer rotas de fuga alternativas em caso de agressões.
A higiene das instalações é um fator determinante para a prevenção de doenças. As estruturas devem ser construídas de forma a garantir isolamento térmico e higrométrico adequados, além de serem fáceis de limpar e desinfetar. Paredes e pisos devem ser mantidos intactos e lisos. A limpeza diária de fezes e urina é crucial, e as gaiolas devem permanecer secas para prevenir a proliferação de patógenos.
Controle Ambiental:
O ambiente físico é um fator determinante para a saúde dos coelhos. A literatura aponta que as doenças em coelhos são frequentemente multifatoriais, influenciadas significativamente pelas condições de alojamento. Por exemplo, temperaturas elevadas podem alterar o comportamento dos animais, reduzindo o consumo de ração e levando à debilidade e, em casos extremos, à mortalidade. Temperaturas baixas, por sua vez, podem contribuir para mastites e síndromes respiratórias, especialmente quando combinadas com alta umidade. Essa relação direta entre as condições ambientais e a suscetibilidade a doenças demonstra que o ambiente não é apenas um fator de conforto, mas um determinante primário da saúde geral. Portanto, a gestão proativa da temperatura, umidade e ventilação é um componente crítico na prevenção de doenças, o que pode reduzir a necessidade de tratamentos dispendiosos e melhorar as taxas de sobrevivência dos animais, especialmente em sistemas de produção comercial onde a densidade pode intensificar os desafios ambientais.
A temperatura ideal para coelhos varia entre 14°C e 24°C, com mínimas aceitáveis de 6-8°C e máximas de 28-30°C. A temperatura ideal para o ninho é de 30°C. Acima de 27°C, os coelhos sofrem com o calor. Para coelhos em crescimento e engorda, a faixa ideal é de 18°C a 22°C. Temperaturas elevadas são mais problemáticas que as baixas, pois os coelhos possuem menos mecanismos de defesa contra o calor, o que pode levar à diminuição do consumo de alimento, afetando o crescimento e a reprodução.
A umidade relativa ideal para coelhos situa-se entre 60% e 70% , com um valor específico de 65% para a fase de crescimento e engorda. Coelhos são sensíveis a umidade muito baixa (abaixo de 55%) e a mudanças bruscas. Níveis de umidade elevados (acima de 80%), especialmente quando combinados com altas temperaturas, podem favorecer a proliferação de doenças como tinhas e rinite contagiosa, além de aumentar os níveis de amônia no ambiente. Por outro lado, umidade muito baixa (abaixo de 50%) pode levar a uma maior concentração de poeira e agentes patogênicos no ar, irritando as mucosas e tornando os animais mais suscetíveis a infecções.
A ventilação é crucial para a qualidade do ar no coelhário. Ela é responsável por evacuar gases nocivos liberados pelos animais (CO2) e pelos excrementos (NH3, H2S, CH4), renovar o ar, remover o excesso de umidade (evaporação, respiração animal) e dissipar o calor excedente. A velocidade máxima de renovação do ar recomendada é de 0.3 m/s. Para climas temperados, sugere-se um fluxo de ar de 1 a 1.5 m³/h/kg de peso vivo. Um desequilíbrio entre o fluxo de ar e a temperatura ambiente pode resultar em problemas de saúde, como distúrbios intestinais ou respiratórios. Pavilhões tipo túnel, que utilizam o princípio da convecção (ar frio entrando pelas laterais e ar quente saindo pela cumeeira), são uma opção econômica e eficaz para a ventilação.
A iluminação também desempenha um papel importante. Para coelhos em crescimento e engorda, uma intensidade luminosa de 20 lux por aproximadamente 8 horas/dia é indicada. Recomenda-se um período de 14 a 16 horas de luz por dia em todas as estações. A iluminação artificial deve ser distribuída uniformemente, preferencialmente pendurada sobre os corredores e nunca diretamente sobre as gaiolas. Para machos reprodutores, 8 horas de luz diária podem estimular o apetite sexual, enquanto para fêmeas, 16 horas regularizam o ciclo estral. Ambientes escuros e úmidos são prejudiciais, pois facilitam o desenvolvimento de agentes causadores de doenças. Contudo, a implementação de programas de luz artificial requer cautela. Se não houver proteção contra insetos, a luz noturna pode atrair mosquitos e pernilongos, vetores da mixomatose, uma doença viral letal. Nesses casos, a interrupção do programa de luz durante os meses de verão é aconselhada. Este aspecto ressalta um dilema: enquanto a iluminação artificial pode otimizar os ciclos reprodutivos, ela introduz um risco de biossegurança se as barreiras físicas contra vetores não estiverem presentes. Assim, a decisão de implementar tais programas deve ser precedida por uma avaliação de risco cuidadosa, ponderando os benefícios da otimização reprodutiva contra o potencial aumento da incidência de doenças, o que pode justificar investimentos em telas de proteção ou ajustes sazonais nos protocolos de iluminação.
A Tabela 2 apresenta os parâmetros ambientais ideais para coelhos, consolidando as faixas recomendadas e os impactos de desvios.
Tabela 2: Parâmetros Ambientais Ideais para Coelhos
Parâmetro Ambiental
Faixa Ideal
Observações/Impactos
Temperatura Geral
14°C - 24°C (Mínimas 6-8°C, Máximas 28-30°C)
Acima de 27°C causa sofrimento por calor. Altas temperaturas reduzem consumo de ração, causam fraqueza e mortalidade. Baixas temperaturas podem levar a mastite e problemas respiratórios.
Temperatura para Crescimento e Engorda
18°C - 22°C
Essencial para bom desenvolvimento e bem-estar.
Temperatura do Ninho
30°C
Crucial para a sobrevivência e desenvolvimento dos láparos.
Umidade Relativa
60% - 70% (65% para crescimento/engorda)
Umidade muito baixa (<55%) aumenta poeira e patógenos. Umidade alta (>80%) com alta temperatura favorece tinhas, rinite e amônia.
Ventilação (Velocidade de Renovação)
Máximo 0.3 m/s
Essencial para evacuar gases nocivos (CO2, NH3) e excesso de umidade. Desequilíbrio com temperatura causa problemas intestinais/respiratórios.
Iluminação (Período de Luz)
14 - 16 horas/dia (geral)
8 horas/dia para machos reprodutores (aumenta apetite sexual). 16 horas/dia para fêmeas (regulariza ciclo estral).
Nenhum comentário:
Postar um comentário